Expressionismo: a tradução das vivências humanas

domingo, 29 de abril de 2012

Alemanha, 1910: uma nova vanguarda toma forma, apresentando-se como reação à estética impressionista de valorização sensorial. É o Expressionismo. Contemporâneo do Cubismo e do Futurismo, a base do Expressionismo é o resultado de um processo criativo que supõe a perda do controle consciente durante a produção da obra de arte. A realidade não deve mais ser percebida em planos distintos (físico, psíquico, etc.), mas sim transformada em expressão.


O movimento expressionista é bastante influenciado pela Primeira Guerra Mundial, e seus quadros ressaltam um lado obscuro da humanidade, retratando faces marcadas pela angústia e pelo medo. A mais conhecida tela expressionista é O grito, de Edvard Munch.




[caption id="" align="aligncenter" width="390" caption="O grito (1893), de Edvard Munch"][/caption]



Literatura expressionista


O único manifesto expressionista surge em 1918. Seu autor, Kasimir Edschmid, procura estabelecer os rumos que a nova visão impunha à literatura.

[...] o universo total do artista expressionista torna-se visão. Ele não vê, mas percebe. Ele não descreve, acumula vivências. Ele não reproduz, ele estrutura. Ele não colhe, ele procura. Agora não existe mais a
cadeia de fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas, gritaria e fome. Agora existe a visão disso. Os fatos têm significado somente até o ponto em que o mão do artista o atravessa para agarrar o que se encontra além deles. [...]


EDSCHMID,  Kasimir. In: TELES, Gilberto Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 1986. p.111. (Fragmento).



Inspirados por essas palavras, os poetas expressionistas abordam, em suas obras, a derrocada do mundo burguês e capitalista, denunciando um universo em crise e a sensação de impotência do homem preso em um mundo "sem alma".


Temas como esses garantem aos textos expressionistas um forte caráter negativista, fazendo com que muitas vezes a representação do mundo se faça de forma grotesca e deformada.


A literatura expressionista cria também imagens distorcidas da realidade para traduzir as vivências humanas. Uma passagem do romance  Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, flagra o impacto da Floresta da Tijuca em Fräulein Elza. Contemplando o espetáculo magnífico da natureza brasileira, a alemã é tomada por sensações e impressões que alteram o modo como vê montanhas e árvores.




A luz delirava, apressada a um vago aviso da tarde. Era tal e tanta que embaçava de ouro a amplidão. Se via tudo de longe num halo que divinizava e afastava as coisas mais. Lassitude. No quiriri tecido de ruidinhos abafados, a cidade se movia pesada, lerda. O mar parava azul. [...]

Fräulein botara os braços cruzados no parapeito de pedra, fincara o mento aí, nas carnes rijas. E se perdia. Os olhos dela pouco a pouco se fecharam, cega duma vez. A razão pouco a pouco escampou. Desapareceu por fim, escorraçada pela vida excessiva dos sentidos. Das partes profundas do ser lhe viam apelos vagos e decretos fracionados. Se misturavam animalidades e invenções geniais. [...] Adquirira enfim uma alma vegetal.

ANDRADE, Mário de.  Amar, verbo intransitivo. 18. ed. Belo Horizonte: Vila Rica, 1992. p. 120. (Fragmento)















Se você quer saber um pouco mais sobre o Expressionismo, acesse os blogs Arte Moderna FAV-UFG e Das Artes.
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