Hoje comemora-se o aniversário de 272 anos de um importante escritor brasileiro: Basílio da Gama. Conhecido poeta árcade brasileiro, Basílio da Gama é autor de um também conhecido poema épico: O Uraguai.
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José Basílio da Gama nasceu no dia 22 de julho de 1740 em São José do Rio das Mortes, atual cidade de Tiradentes, em Minas Gerais. Era filho de Manuel da Costa Vilas-Boas, fazendeiro abastado, e de Quitéria Inácia da Gama. Seu pai morreu no início de sua infância, acarretando diversas situações difíceis para a família. Assim, foi necessária a presença de um protetor, o brigadeiro Alpoim, que ficou responsável pela ida do autor para o Rio de Janeiro e o ingresso no colégio dos jesuítas, onde faria o noviciado para professar na Companhia de Jesus.
Com a expulsão dos jesuítas, em 1759, os que não eram professos podiam voltar à vida secular, pela qual optou Basílio da Gama, que prosseguiu seus estudos, provavelmente no Seminário São José.
Viajou depois pela Itália e Portugal, de 1760 a 67. Em Roma, foi recebido na Arcádia Romana sob o nome de Termindo Sipílio, com a proteção dos jesuítas, que teriam emendado os versos acadêmicos do poeta principiante e sem nenhuma produção de vulto.
Em 30 de junho de 1768, estava de viagem para Lisboa, a bordo da nau Senhora da Penha de França, com o objetivo de matricular-se na Universidade de Coimbra. Lá chegando, foi preso e condenado ao degredo para Angola, como suspeito de ser partidário dos jesuítas. Do desterro a que estava sentenciado salvou-o o Epitalâmio que escreveu às núpcias de D. Maria Amália, filha de Pombal. Este simpatizou com o poeta, perdoou-o e, depois de lhe conceder carta de nobreza e fidalguia, deu-lhe o lugar de oficial da Secretaria do Reino. Basílio identificou-se, desde então, com a política pombalina. Para conciliar as graças de Pombal, compôs o Uraguai, publicado em 1769 na Régia Oficina Tipográfica, de Lisboa. A queda de Pombal, em 1777, não lhe alterou a posição burocrática.
Ao final de sua vida, foi admitido na Academia das Ciências de Lisboa e publicou o poema Quitúbia (1791) e, ainda, traduções e alguns versos de circunstância.
Faleceu em Lisboa, Portugal, em 31 de julho de 1795.
É o patrono da Cadeira n. 4 da Academia Brasileira de Letras.
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Obras: Epitalâmio às núpcias da Sra. D. Maria Amália e O Uraguai (1769); A declamação trágica (1772), poema dedicado às belas artes; Os Campos Elíseos (1776); Relação abreviada da República e Lenitivo da saudade (1788); Quitúbia (1791); A declamação trágica (1820).
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O Uraguai (1769)
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O Uraguai é um poema épico escrito em versos decassílabos brancos. (Versos decassílabos = 10 sílabas poéticas. Versos Brancos = versos que não possuem rimas). O texto trata da expedição de portugueses e espanhóis contra as missões jesuíticas do Rio Grande, para executar as cláusulas do Tratado de Madri em 1750. Pelo tratado, as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha a Portugal. Os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos era habitada por índios e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à pretensão dos portugueses.
Basílio da Gama também possuía o objetivo de descrever o conflito entre o ordenamento racional da Europa e o primitivismo do índio. O escritor mostra simpatia pelo índio vencido enquanto transfere o ataque aos jesuítas.
O poema narra o que foi a luta pela posse da terra, travada em princípios de 1757, valorizando os feitos do General Gomes Freire de Andrade e exaltando o Marquês do Pombal.
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A morte de Lindóia
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Um dos episódios mais líricos da Literatura Brasileira, a morte de Lindóia é um texto que trabalho bastante em sala de aula. É o momento em que a índia Lindóia prefere morrer a casar-se com o inimigo, deixando-se picar por uma serpente.
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Os índios já haviam perdido a guerra e, reunidos na tribo, preparavam-se para a cerimônia de casamento de Lindóia com Baldeta (filho sacrílego do jesuíta Balda), que tem garantido o papel de chefe da tribo. Lindóia, contudo, não está interessada no casamento. Inconformada com a morte de seu marido Cacambo, ela se retira da tribo, desgostosa, e entra na floresta. Seu irmão Caitutu e outros índios vão procurá-la.
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Entram enfim na mais remota e interna
Parte de antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte, que murmura,
Curva latada de jasmins e rosas.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva, e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco, e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca, e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo co'a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!Basílio da Gama Apud Moisés, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. 5. ed.
São Paulo, Cultrix, 1977. p. 94-95
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Perfil do escritor no sítio da Academia Brasileira de Letras.
Obra de Basílio da Gama no sítio da Brasiliana Digital.
Para saber um pouco mais sobre Arcadismo Brasileiro, clique aqui.
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