Futurismo: uma literatura agressiva e provocadora

sábado, 28 de abril de 2012

Os leitores do conservador jornal francês Le Figaro foram surpreendidos, no dia 20 de fevereiro de 1909, por um texto de Filippo Tommaso Marinetti:




[caption id="" align="aligncenter" width="337" caption="Filippo Marinetti"][/caption]

O Futurismo


[...] — Vamos, meus amigos! Disse eu. Partamos! Enfim, a Mitologia e o Ideal místico estão ultrapassados. Vamos assistir ao nascimento do Centauro e veremos logo voarem os primeiros Anjos! — É preciso abalar as portas da vida para nela experimentar os gonzos e os ferrolhos!... Partamos! Eis o primeiro sol nascendo sobre a terra!... Nada é igual ao esplendor de sua espada vermelha que se esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares.


[...]


Com o rosto mascarado pela boa lama das usinas, cheio de escórias de metal, de suores inúteis e de fuligem celeste, levando nossos braços pisados na tipoia, entre o lamento dos sábios pescadores à linha e dos naturalistas angustiados, nós ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da terra:


Manifesto do Futurismo


1 - Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito à energia e à temeridade.


2 - Os elementos essenciais da nossa poesias são a coragem, a audácia e a revolta.


3 - Tendo a literatura até aqui enaltecido a imobilidade pensativa, o êxtase e o sono, nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo ginástico, o salto mortal, a bofetada o soco.


4 - Nós declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre adornado de grossos tubos como serpentes de fôlego explosivo...um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais belo que a Vitória de Samotrácia.


[...]


7 - Não há beleza senão na luta. Nada de obra-prima sem um caráter agressivo. A poesia deve ser um assalto violento contra as forças desconhecidas, para intimá-las a deitar-se diante do homem. 8 - Nós que estamos sobre o promontório extremo dos séculos!... [...] O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós vivemos já no absoluto, já que nós criamos a eterna velocidade onipresente.


9 - Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas idéias que matam, e o menosprezo à mulher.


10 - Nós queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e todas as covardias oportunistas e utilitárias.


11- Nós cantaremos as grandes multidões movimentadas pelo trabalho, pelo prazer e pela revolta; [...] os navios aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de grande peito, que escoucinham os trilhos, como enormes cavalos de aço freados por longos tubos, e o vôo deslizante dos aeroplanos, cuja hélice tem os estalos da bandeira e os aplausos da multidão entusiasta."


É na Itália que nós lançamos este manifesto de violência agitada e incendiária, pela qual fundamos hoje o Futurismo, porque queremos livrar a Itália de sua gangrena de professores, de arqueólogos, de cicerones e de antiquários.



[caption id="" align="aligncenter" width="500" caption="O Manifesto Futurista, no jornal Le Figaro"][/caption]

O grande alvoroço causado pelo Futurismo se dá pela polêmica figura de Marinetti, que lança mais de 30 manifestos definindo diversos aspectos da nova vanguarda. Em todos, a proposta violenta de destruição total do passado; o fascínio pela guerra que promove a aniquilação dos símbolos do passado; a exaltação pelas formas do mundo moderno:  automóveis, aviões, em um eterno culto à velocidade que Marinetti, fascinado pelas novas tecnologias, vê como uma força mística.


Adotando uma perspectiva violenta, agressiva e iconoclasta, os futuristas exaltam "a bofetada e o soco" como meio de despertar o público para a passividade em que se encontra. A violência que destrói as certezas e os modelos obriga o leitor a reagir. O processo de recepção da nova arte passa a ser, assim, mais dinâmico e interativo.


Infelizmente, existe um lado sombrio do Futurismo: na Itália, com a chegada de Mussolini ao poder. O fascínio de Marinetti pela violência e pela guerra, aliado a um patriotismo exacerbado, faz com que transforme o movimento em uma espécie de porta-voz do regime fascista, a partir de 1919.




CARACTERÍSTICAS DO FUTURISMO


• Dinamicidade


• Aspectos mecânicos


• Velocidade abstrata


• Uso de elementos geométricos


• Esquemas sucessivos de representação do objeto pictórico, como exposição fotográfica múltipla.


• Movimentos animados pela fragmentação das figuras representadas, conforme o modernismo. (no final da fase fica próximo ao cubismo)





[caption id="" align="aligncenter" width="200" caption="Cartaz de propaganda de um sarau futurista"][/caption]

 

 

 Para saber um pouco mais sobre o Futurismo, clique aqui.

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